sexta-feira, 19 de junho de 2009

_A natureza não pede documento


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Dois séculos e pouquinho tem o jornalismo brasileiro de história. O jornalista se reconhece como categoria profissional há mais de 80 anos. O Sindicato dos Jornalistas de São Paulo foi fundado em 1937. Antes da exigência do diploma, que começou em 1971, a categoria já havia conquistado a jornada de trabalho reduzia, o piso salarial (que em São Paulo já foi de seis salários mínimos) e outros benefícios profissionais. Houve muita luta para se erguer esse edifício.

Em 1969 os militares que comandavam o governo do pais impuseram a exigência do diploma —durou 40 anos. De certa maneira o instituto contribuiu para consolidar o profissionalismo no jornalismo, porém foi também foi um enorme estímulo ao aparecimento dos cursos quinta categoria —as verdadeiras arapucas do ensino superior, sinônimo de picaretagem—, que se aproveitaram da reserva de mercado de trabalho para lucrar e inundar a atividade de profissionais despreparados e descomprometidos com o papel informador e transformador do jornalismo. Note-se que os docentes dessas instituições são os que mais brigam contra o fim da exigência do canudo.

Agora, a não exigência do diploma coloca um novo desafio para os cursos de Comunicação Social: conquistar o seu próprio espaço na sociedade e a sua própria inserção no mercado de trabalho profissional. As boas escolas, os bons cursos continuarão como referência e formando bons jornalistas para a sociedade brasileira.

Ainda é preciso ver qual será a exigência para o registro da profissão, se haverá ou não registro profissional. O debate está aberto. Não dá para fugir dele.

Muitos desses jornalistinhas malformados e mal-informados deitaram a escrever asneira dizendo que o diploma não mais tem valor. O que não é bem verdade: o diploma continua valendo muito. Como disse o advogado Joao Campos, "os grandes jornais e as maiores emissoras de tv vão preferir o jornalista formado. Não por uma questão de lei, de jurisprudência ou de reserva de mercado, mas de qualidade na prestação de um dos bens mais preciosos da humanidade: a informação".

É óbvio que os grandes veículos de comunicação —e os pequenos também (na medida de suas possibilidades)— vão optar por profissionais formados e capacitados. É sempre bom lembrar que nem sempre (ou quase nunca) quem tem diploma é capacitado. A gente pode comprovar esse argumento apenas observando o que é veiculado pela mídia (grande ou pequena) por esse Brasilzão afora. Uma prova dessa má-formação é dada pelos advogados: em cada Exame da Ordem (dos Advogados do Brasil), em média apenas 20% são aprovados para exercer a profissão

Mais umas palavrinhas sobre esse assunto: em países pouquinha coisa mais sérios que o Brasil (França, EUA, Inglaterra, Alemanha, Itália, Espanha e outros) não existe a exigibilidade do diploma pra trabalhar como jornalista. E a imprensa de lá é tão boa ou melhor do que a de cá. Só pra encerrar: a natureza, ao produzir um ser humano capaz, por acaso exige diploma ou consulta universidades?

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