quarta-feira, 5 de julho de 2017

Uma imensa delegacia

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De modo geral o brasileiro tem a sensação de que o Brasil transformou-se numa imensa delegacia de polícia. Os organismos de segurança do Estado dominam a cena política e suas constantes crise. Diariamente o cidadão de todos os rincões tomam conhecimento prisões, delações, denúncias, sentenças etc., ou envolvendo políticos ou protagonizadas por empresários.
Principalmente a Polícia Federal rotineiramente cumpre os mandados emitidos pelos magistrados de todas as instâncias. As operações em sequência ampliam o contencioso da operação Lava Jato e outras em andamento. Na segunda-feira passada, por exemplo, foi a vez do ex-ministro do Governo Temer, Geddel Lima e do empresário de transportes urbanos do Rio de Janeiro, Jacob Batista Filho.
Cada detenção de políticos —senadores, deputados, ex-ministros, ex-governadores, impacta negativamente a imagem do Governo. Tem-se a impressão de que há uma estratégia bem definida para estreitar a margem de articulação governamental.
Uma cadeia de impressões se estabelece: os deputados assustam-se com as prisões e fazem ilações sobre os efeitos que essas detenções geram na sociedade. E começam a tomar decisões que garantam suas sobrevivências no palco da política. Estão fixados no futuro, nas eleições de 2018. E nesse palco, vão decidir o pedido de investigação do presidente Temer, o temeroso, feito pelo Supremo Tribunal Federal (STF) à Câmara Federal.
Mas ninguém neste momento parece ter o condão de fazer a mágica que liquidará a crise no curto prazo. E ficam todos com a impressão de que a eleição do ano que vem será disputada em meio à pior crise político-econômica que já atingiu a nação em toda a sua história.
Em um contexto social especialmente desregrado —ainda que haja um excesso de leis no país —a corrupção e a cleptocracia encontram estímulos especialmente poderosos. Há excesso de terreno fértil para o malfeito. A pesca é melhor e maior quando as águas estão revoltas. Extorque-se mais do cidadão quando o ambiente de tolerância —e de necessidade— promove as condições para seu crescimento. A cultura brasileira favorece a corrupção, assim como a cleptocracia. A ambiguidade ética está presente tanto nas elites dominantes como na sociedade como um todo —o cidadão saudável que estaciona numa vaga de deficiente, e.g., é o mesmo que aceita a cleptocracia sem traumas. Reina o relativismo moral, até porque nada é inflexível —nem a ética.
Moral da história: o Brasil é, de fato, uma cleptocracia. Roubemos todos.


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