domingo, 7 de junho de 2015

_De homens e de ratos

[ 
Lendo as gazetas há alguns anos, fiquei sabendo, um tanto assombrado, que uma equipe de cientistas dos Estados Unidos da América revelou que a raça humana descende de um animal roedor semelhante ao rato, que viveu no período Cretáceo, ou na era dos dinossauros, há uns 125 milhões de anos. O estudo que nos liga aos histricomorfos foi divulgado há um longo tempo pela revista britânica Nature, especializada em ciências.

Dizia na época a publicação inglesa que a conclusão dos sábios norte-americanos foi possível depois da descoberta do fóssil de um mamífero com placenta mais antigo encontrado até aquele momento. O animal viveu na época dos dinossauros na província chinesa de Liaoning, conforme cientistas do Museu da História Natural de Carnegie, em Pittsburg (EUA).

O animal, com um jeitão de rato, tinha uma longa cauda e comprimento de uns dezesseis centímetros, se alimentava provavelmente de insetos e é o exemplo mais antigo conhecido da subclasse de mamíferos eutérios ou placentários, isto é, aqueles animais que se desenvolvem em uma placenta —ao contrário dos metatérios ou aplacentários, cujos recém-nascidos imaturos completam seu desenvolvimento em uma bolsa marsupial, como os cangurus, por exemplo.

Tem mais: os pesquisadores que encontraram o fóssil lhe deram o nome de “mãe do amanhecer”, Eomalia. Esta espécie de rato tinha longos dedos que o possibilitavam subir em árvores, o que possivelmente os protegia de serem devorados pelos dinossauros e outros bichos grandes. E provavelmente já se podia antever neles uma certa queda para as macaquices e ratices.

As investigações revelaram que esta espécie de mamíferos tinha um longo período de gestação, durante o qual nutria suas crias através da placenta. Embora o Eomalia seja o antecessor dos mamíferos que se alimentam através da placenta durante o período de gestação, os pesquisadores acreditam que ele se reproduzia de forma similar aos atuais marsupiais. Os cientistas chegaram a esta conclusão porque algumas partes do esqueleto encontrado sugerem uma gestação curta e uma alimentação posterior da cria suspensa no abdômen.

Li todas essas informações e fiquei cá pensando com meus zíperes: não é que tem mesmo a ver? Os ratos parecem merecer os homens e vice-versa —e ao menos nalgumas formas de se comportar, nos parecemos. Eles e nós gostamos de morar em ambientes parecidos, em tocas. E temos particular atração por cidades grandes, sujas, malcuidadas. E, apesar de nos temermos mutuamente, temos também fascinação um pelo outro.

Eles porque por um motivo ou outro escolheram viver com a gente e não na floresta como os outros animais não domesticados. Nós porque talvez vendo neles o melhor (ou o pior) espelho para nós mesmos, os transformamos em personagens como Mickey Mouse, Jerry, Félix e tantos outros ratos humanizados e meio bestas da cultura popular e de massa atual e antiga.

Além de ser a designação comum dos roedores murídeos atualmente disseminados por todo o mundo, responsáveis pela destruição de grandes quantidades de alimento e pela transmissão de diversas doenças, como a peste bubônica, a palavra rato tem a acepção de pessoa trapaceira, tratante, o que tem muito a ver com a corrupção endêmica que domina boa parte do planeta, incluindo o Brasil.


Nenhum comentário: