quarta-feira, 23 de junho de 2010

[Spam... spam... spam... spam...]

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Spam, originalmente, é a marca de um apresuntado enlatado fabricado nos Estados Unidos. Tem gente que diz que até é gostoso, sabe-se lá —mas não deve ser: pode apresuntado ser gostoso?! O fato é que o termo spam ganhou nova conotação com a era da informática. Por meio de um artigo de Cora Rónai em "O Globo", a gente fica sabendo que tudo começou quando o anárquico grupo de humoristas ingleses Monty Python usou a palavra em um esquete sobre um casal que, assistidos por um bando de viquingues, sentado à mesa de um bar, recebia, incomodado, informações de uma canhestra garçonete de mais e mais spam.


Como os Monty Python enchiam o saco do espectador pedindo Spam à exaustão, alguém teve a bendita idéia de usar o termo pra designar repetições maçantes. E hoje spam serve para definir todo e-lixo que entulha os computadores de gente no mundo inteiro. As e-cartas trazem e repetem indefinidamente propaganda de sites, lendas urbanas sobre roubos de órgãos ou hambúrgueres feitos de carne de minhoca, e, principalmente, correntes que nos ameaçam com coisas terríveis se não forem passadas pra frente, como uma nova versão do Big Brother ou outro reality show qualquer tv ou a divulgação de um novo show de uma banda de pagode ou música sertanojo. Isso, sem contar os indefectíveis anúncios de novos métodos para os homens idiotas tentarem inutilmente aumentar o tamanho dos seus pingolins.


Essa porcariada toda de spam prolifera-se pela Internet a fora feito Gremlins molhados, enchendo o saco de todos aqueles que têm um endereço eletrônico pra receber correspondência virtual. Eles disputam a atenção do distinto público internauta com o Silvio Santos, o churrasco com mandioca e as visitas noturnas aos supermercados, que o campo-grandense adora, munidos com todo um arsenal idiota de frases engraçadinhas, pornografia barata, piadinhas idiotas, remédios diversos, ofertas de crédito caro y otras cositas más. Muitos contêm propostas indecentes, comentários nazistas, textos obscenos, declarações de amor, anedotas infames e sugestões debochadas de todo tipo.


Enfim, resumindo, a definição de spam do ponto de vista prático é o envio abusivo e repetitivo de correio eletrônico não solicitado (claro, quem solicitaria uma porcaria dessas?!) em grande quantidade distribuindo propaganda, correntes e esquemas de "ganhe dinheiro fácil". Um desperdício de recursos da rede pago por quem recebe. Observando de modo restrito, que mal faz enviar algumas centenas de correios em mala-direta para outrem? De modo mais amplo, quanto não se gasta levando em consideração o absurdo volume anual de correio eletrônico enviado?


No ambiente internetiano, spam significa enviar uma mensagem qualquer para qualquer quantidade de usuários, sem primeiro obter a expressa e explícita autorização daqueles destinatários. Este procedimento, propiciado pelo baixo custo de envio de mensagem eletrônica, causa inconveniência e custo para o destinatário. O spammer, isto é, o autor e remetente do spam, só está olhando para os seus interesses egoistas e imediatos. Ele é capaz de passar por cima de qualquer regra mínima de convivência.


Às mensagens enviadas pelo spammer as pessoas se referem como mensagens não-solicitadas. Este não é o termo apropriado, pois é um contrasenso admitir-se que alguém precisa de uma autorização especial para nos enviar uma correspondência. Na verdade, o que se quer é ter mecanismos que reduzam a níveis mínimos o volume de junk e-mails (mensagens-lixo) nas caixas postais eletrônicas.


E esses mecanismos precisam vir logo, pois a quantidade de spam que circula na web continua crescendo, dizem estudos de empresas de segurança eletrônica. Os números indicam que os autores dos e-mails indesejados que chegam diariamente às caixas postais eletrônicas estão enviando suas mensagens para os internautas que falam inglês e para regiões onde o uso da Internet é alto. Os Estados Unidos são o mercado mais interessante para os spammers em termos de acesso à internet e adoção do e-mail.


Tem gente que pensa que as mensagens pornográficas são a maioria. Ledo engano: o spam financeiro é mais comum do que e-mail pornô diz um estudo da Clearswift, empresa que filtra spam. Segundo seu levantamento, os e-mails com propaganda de serviços financeiros logo devem se tornar o tipo de mensagem não-solicitada mais comum da web. A Clearswift afirma que a queda acontece pois há um aumento na quantidade de spam de serviços financeiros.

A pornografia está em queda, no entanto. O número de mensagens com conteúdo pornográfico está em franco declínio. Há um ano, os spams pornôs respondiam por 22% de todo o volume de mensagens indesejadas da web. Atualmente, o volume de e-mails indesejados com conteúdo pornográfico é de apenas 5%. Os produtos e serviços ditos para adultos não estão gerando o retorno esperado pelos spammers, por isso há uma queda acentuada no volume desse tipo de spam. Para compensar, eles estão enviando e-mails com outros atrativos, como serviços financeiros.


No dvd Monty Python Live at the Hollywood Bowl, aliás, em uma noite bem pitoresca, há um hilário sujeito vendendo apresuntado Spam para a platéia, como na história original do spam. Quer dizer, spam já era coisa de se tirar sarro lá nos idos de 1982, veja só. Sabe o que isso representa para todos nós? Um calvário, um karma que deve se perpetuar por anos a fio! Mas continuo contra qualquer restrição coletiva, censora ou massiva contra os spammers. Penso que devemos pensar em cada um resolver o problema como achar melhor. Censura é pior do que tudo.


A bem da verdade, é perfeitamente legal e permitido o envio de mala-direta por e-mail no Brasil e na maioria dos países no mundo, não existindo nenhuma lei de âmbito municipal, estadual, federal ou internacional que proíba essa prática, embora muitos provedores e usuários sejam contrários. O e-mail é uma forma de correspondência igual a uma ligação telefônica ou a uma carta.


No Brasil e no resto do mundo, da mesma forma que não é necessário autorização para se mandar cartas ou telefonar para alguém, também é desnecessária autorização prévia para o envio de e-mails. Não há nada na legislação brasileira que refira-se à prática do spam, ou que a regulamente. Empresas de telemarketing de posse das páginas amarelas, fazem milhões de ligações não solicitadas para milhões de pessoas que também ficam "p" da vida com isso; e porque continuam fazendo? Porque o retorno para eles também é muito bom.


Toda vez que ligamos o rádio, a televisão, ou abrimos um jornal, revista, hebdomadário etc., somos bombardeados por uma gama enorme de todo tipo de propaganda —todas também não solicitadas. Mas temos que agüentar, principalmente algumas de péssimo gosto e conteúdo. E, veja bem, estamos gastando dinheiro na compra do jornal, da revista, ou com a energia elétrica que mantém os aparelhos funcionando. Cada vez que aparece um comercial na tv, estamos pagando por alguma coisa que não queremos ver.

Da mesma forma, toda vez que navegamos na Internet, ao entrar site, temos que ter uma enorme paciência até que se abram todos os banners de propaganda, que também não solicitamos e que não nos avisaram que estariam lá. E estamos gastando com a ligação telefônica ou com a conta com o provedor. A diferença nestes casos, em relação com o spam, é que muitos provedores estão faturando com a propaganda do banner enquanto que o spam é (teoricamente) gratuito.


Se você não encontra meios para dar um fim na recepção de spams, melhor levar na brincadeira. Aqui vai uma séria de dez dicas sobre o que fazer com spams: 10) Imprima-os e use-os como papel higiênico; 9) Traduza-o para o seu segundo idioma apenas para treinar; 8) Encaminhe-o para alguem que você odeie; 7) Encaminhe-o para seus amigos (ou ex-amigos...); 6) Guarde-os por uma semana e escreva sua tese baseado neles. 5) Imprima-o, e envie por correio para o spammer; 4) Pegue vinte spams, mude as fontes e as cores, imprima-os e faça cartas de resgate individuais para enviar para cada spammer; 3) Ligue para ele e recite o email de trás para frente assim que alguem atender; 2) Encaminhe todos os spams recebidos para o ombudsman do seu provedor e peça para que ele tome alguma providencia; 1) Faça isso tudo de novo. Pode não resolver nada, claro. Mas você se diverte.

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