sexta-feira, 25 de setembro de 2009

_A união faz a farsa

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Está em andamento em todos os partidos que atuam em Mato Grosso do Sul uma ampla discussão sobre hegemonia política e alianças. Basicamente, há duas correntes: uma encabeçada pelo PT, que já foi governo; outra liderada pelo PMDB, que está governo. Esta, entretanto, é uma briga de cães raivosos: voa pena pra todo lado.

Aliados no plano nacional, PT e PMDB são inimigos inconciliáveis em Mato Grosso do Sul. Presidente de honra do PT e principal líder do partido, o presidente Lula da Silva afirma desejar que a aliança se repita em terras guaicurus, mas não deixa de reconhecer que muitos obstáculos terão de ser superados para que se viabilize. Antes de tudo, tem argumentado, é preciso “muita paciência para conversar e muita maturidade política”.
É claro que o tema das alianças é tabu dos dois lados, sobretudo em alguns setores de esquerda —aqueles mais à esquerda—, que vêem as coalizões como prova de capitulação ou falta de combatividade. Isso fica muito claro entre os petistas, que execram, aqui em Mato Grosso do Sul, a desenvoltura com que alguns articuladores político do ex-governador Zeca do PT, circulam entre os próceres da direita, tudo em nome de montar uma coalizão forte pra enfrentar a candidatura de André Puccinelli à reeleição.

Os esquerdistas argumentam que, quando levados a praticá-las, acabam por concebê-las de modo instrumental, como recurso para ganhar espaço eleitoral ou posições governamentais, esquecendo-se dos ideais petistas, ideais estes há muito abandonado por algumas das principais lideranças da agremiação.

Ainda que a palavra esteja na boca de muita gente, as alianças desafiam a inteligência política brasileira. A frouxidão com que são incorporadas à ação democrática reflete uma fraqueza de pensamento em relação à própria democracia, indica um modo de fazer política e revela o tamanho da arrogância que costuma acompanhar as postulações políticas em nosso país. Ou seja, é um bom indicador da dificuldade que temos de ouvir as razões dos que pensam diferente da gente e de admitir que os nossos próprios argumentos talvez não sejam tão certos assim.

Inerente a qualquer disputa pelo poder, a busca de alianças é notadamente decisiva quando se trata de chegar ao governo, particularmente em sistemas políticos fracionados e sem tradição partidária, além de completa falta de escrúpulos dos políticos no que se refere à fidelidade partidária, como é o caso do brasileiro. Sem aliados torna-se difícil obter votos e mais difícil ainda governar. O ex-governador Zeca do PT chegou rapidamente a essa conclusão desde o seu primeiro mandato e, desde então, sabe que tem de sair à luta em busca de alianças, sem se importar com quem.

Quem não aceita a necessidade de alianças e não se dedica a viabilizá-las, costuma avaliar mal a correlação das forças políticas do seu ambiente e menosprezar o poderio dos adversários. Fica mais com princípios doutrinários e vontades que com a realidade. Pouco se diferencia dos que se esmeram em buscar parceiros e acordos a qualquer custo, em nome de interesses tópicos ou pequenas ambições —isto é, o jogo político não é lugar para extremismos. E o PT em Mato Grosso do Sul vive hoje essa contradição com todos os seus ônus.

A dificuldade de lidar com a questão das alianças sempre foi uma pedra no sapato petista. Mas Zeca do PT busca as alianças à exaustão —e parece que as vem obtendo. O ex-governador e seus conselheiros políticos entendem que só com alianças em todas as nuances do espectro político poderá retornar ao Parque dos Poderes. E para isso não hesitarão inclusive em romper com antigos aliados e companheiros petistas. Vide a defecção de alguns próceres petistas, como Mariano Cabreira.

A idéia é aquela de que a “união faz a força”. Há, entretanto, no PT gente preocupada com a possibilidade de que alianças sem critérios políticos e ideológicos mínimos com quem nada tem nem nunca nada teve a ver com os ideais progressistas prejudiquem o partido nas eleições do ano que vem e acabem transformando o mote em a união faz a farsa, prática não rara na arena política brasileira.

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