quarta-feira, 5 de agosto de 2009

_Cheiro forte

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Quarta-feira começa com forte odor de pastelão —não mais de pizza— no Senado. O site Congresso em Foco dá conta de que “prevendo arquivamento de representações contra Sarney, senadores articulam apresentação de recurso no Conselho de Ética. Recuo do PT reforça interferência do Planalto em operação para manter peemedebista na presidência”.

Assim, está montado o cenário para o grande pastelão do Conselho de Ética do Senado: a partir das três horas da tarde desta quarta-feira, 5 de agosto, o presidente do colegiado, Paulo Duque (PMDB-RJ), vai analisar as representações contra seu correligionário, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Na mesma hora, Sarney estará no plenário do Senado, onde responderá às denúncias de irregularidade que lhe são assacadas desde que tomou posse da presidência da Casa, pela terceira vez, em fevereiro passado.

Senadores de diversos partidos consultados pelo Congresso em Foco não escondem o receio de que Duque opte pelo arquivamento das representações contra Sarney: “os parlamentares entrevistados também acusam a interferência do Palácio do Planalto na manutenção do peemedebista à frente do Senado. A ação acontece nos bastidores e é conduzida com mão de ferro pelo presidente Lula, de olho na governabilidade da Casa e com vistas à aliança nacional PT-PMDB na sucessão presidencial de 2010”.

“O governo está trabalhando nessa direção”, lamenta o senador Flávio Arns (PT-PR), observando que a não aceitação das representações “vai gerar uma crise institucional bastante acentuada”. Os sinais de que Duque arquivará as representações são tão evidentes que dois senadores, José Agripino (DEM-RN) e Renato Casagrande (PSB-ES), declararam antecipadamente a intenção de apresentar recursos ao plenário do Conselho de Ética e do Senado para que o arquivamento seja revisto.

Terça-feira à noite, surpreendendo quem não o esperava na Casa antes da reunião do colegiado, Duque garantiu já ter tomado uma decisão e reafirmou não temer repercussão negativa de um eventual arquivamento das denúncias perante a opinião pública.

Na operação salvamento no Conselho de Ética, o Planalto avalizou até mesmo o embate da segunda-feira passada, quando se travou uma das sessões mais tensas dos últimos meses no Senado, para demonstrar não só a disposição de Sarney em se manter no posto, como também a tendência do governo federal em colocar seu poder em favor da causa. Na segunda, Pedro Simon (PMDB-RS) fez mais um discurso pelo afastamento de Sarney, no que foi duramente contra-atacado por dois dos mais influentes integrantes da tropa de choque do cacique peemedebista: o líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), e o senador Fernando Collor (PTB-AL).

Os jornais do início da semana mostram que o presidente do Senado voltou quase eufórico das suas férias no recesso e com a firme disposição de continuar no posto. O que se analisa é que a glória enviesada subiu à cabeça de Sarney —pelo elevador de serviço. Se ao menos conseguíssemos mudar o leiaute dos bigodes dele, já estaríamos prestando um grande serviço à ética e à estética da pátria.

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