sábado, 20 de junho de 2009

_Proh pudor!

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Faz tempo que escrevi sobre esse assunto em outro veículo. Notícias das agências internacionais davam conta que um ex-diretor da agência que supervisiona questões sanitárias na China, Zheng Xiaoyu, foi executado na manhã de uma terça-feira ensolarada, segundo informações da agência de notícias estatal Xinhua. Zheng, um distinto e provecto cavalheiro de 62 anos que comandava a Administração Estatal de Alimentos e Medicamentos (AEAM) daquele país, havia sido condenado à morte por corrupção —ele abocanhou 6,5 milhões de yuans, algo em torno de 1,6 milhão de reais em propinas em troca da aprovação de licenças a novos medicamentos.

Zheng chegou a apelar da sentença, alegando que era "muito severa"; afinal, argumentava ele, havia confessado seus bárbaros crimes e cooperado com a polícia chinesa. Porém o recurso foi rejeitado pela Justiça chinesa. O alto funcionário do governo chinês foi exonerado em 2005 depois de sete anos no cargo. Logo após sua demissão, o governo chinês anunciou uma revisão das licenças de cerca de 170 mil medicamentos concedidas durante sua gestão. Grande parte desses remédios fazia mais mal do que bem e provocou estragos a nível planetário.

Saber que um alto funcionário público de um país tão longínquo foi condenado à morte e executado dá o que pensar, não dá não? Veja você, leitor, que por estas plagas a corrupção come solta. Acredita-se que o sistema político brasileiro leva a práticas corruptas —corrupção: quantas leis se fazem em seu nome!

A política é uma atividade nobre —acredito piamente nisso—, o que atrapalha são os atores políticos. Entretanto, para combater esses os ilícitos dos governantes no Brasil, tem que haver uma reforma política. Por exemplo, os bancos e as empresas, principalmente as que fornecem ao Governo, elegem seus representantes parlamentares, que têm grande influência no Congresso. Um dos pressupostos para acabar com a corrupção é mudar o sistema.

A captura do Estado para interesses privados prejudica o crescimento do Brasil que, como se sabe, é completamente desigual. Parte da elite, principalmente a elite econômica, é beneficiada —mas os pobres não. Os casos de corrupção na administração pública só estão sendo em parte desvendados —mas falta muito ainda—, até porque tecnologia da informação hoje é bem mais desenvolvida que antigamente. Mesmo assim, ainda estamos patinando na questão institucional.

É tanta a corrupção, que hoje o brasileiro está tão acostumado a ver a bandidagem que acredita que a prática ilegal faz parte do cotidiano. Há no Brasil um problema para diferenciar o que é público e o que é privado. Muitas das chamadas autoridades parecem enxergar que os cargos assumidos em órgãos públicos lhes dão o direito de ser donos. A corrupção é hoje um problema cultural. E o Poder Judiciário do país tem parte de culpa nisso tudo: como a sociedade não vê justiça, os cidadãos demonstram considerar normais essas situações. Surge o seguinte raciocínio: as coisas são assim e vão continuar dessa forma. O crime só vai acabar, ou pelo menos diminuir, quando a formação do cidadão mudar desde o berço.

Depois que li a notícia sobre a execução do senhor Zheng Xiaoyu fiquei aqui lucubrando: mesmo sendo contrário à pena de morte, o que aconteceria se os corruptos tupiniquins, perdessem a vida, com a efetiva participação e colaboração da Justiça, é claro!, sempre que fossem flagrados afanando nosso suado dinheirinho? Será que haveria cemitério suficiente pra tanto gatuno? Certamente não conseguiríamos acabar com tanta bandalheira, mas com certeza ia diminuir muito, lá isso ia!

Fico também me perguntando por que o Governo não acaba com a corrupção? Não sei se há uma resposta simples pra isso, mas a gente sente que enquanto há corrupção as pessoas só perguntam "por que o Governo não acaba com a corrupção"? Se acabar a corrupção, o pessoal vai querer que o Governo melhore a educação, ajeite o sistema de saúde pública, de um fim na violência, elimine a canalhice e, sobretudo, extirpe a própria, dele, Governo, incompetência. E aí como é que fica? E que o senhor Zheng Xiaoyu descanse em paz.

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