¬Em 1811, dois médicos portugueses, Vicente
Pedro Nolasco da Cunha e Bernardo José de Abrantes e Castro, lançaram em
Londres, a mando e sob a proteção dos representantes lusos, o Investigador Português, que começou a
circular em julho daquele ano, recebendo aqueles "jornalistas" uma
pensão para mantê-lo. Era o início daquilo que o general e historiador Nelson
Werneck Sodré chamou, em seu livro História
da Imprensa no Brasil, de imprensa áulica.
Daí surge uma pergunta óbvia: que vem a ser um áulico? O jornalista e professor da Escola de Comunicações e Artes da USP Eugênio Bucci tem uma resposta: "a palavra vem de outras paragens. Com origens que remontam ao grego (aulikós), passando pelo latim (aulicus), ela ressurgiu no século XVI com o sentido de 'cortesão', de 'palaciano'. Hoje, designa aquele que enaltece e glorifica o poderoso. Se o poderoso em questão se encontra instalado no Estado ou aboletado no comando das legiões oposicionistas, é o de menos. Qualquer poderoso, esteja onde estiver, nutre estima por seus áulicos, aqueles amigos solícitos que riem de suas piadas, acendem seus cigarros e, quando conseguem atrair um microfone, elogiam os dotes visionários do chefe".
Daí surge uma pergunta óbvia: que vem a ser um áulico? O jornalista e professor da Escola de Comunicações e Artes da USP Eugênio Bucci tem uma resposta: "a palavra vem de outras paragens. Com origens que remontam ao grego (aulikós), passando pelo latim (aulicus), ela ressurgiu no século XVI com o sentido de 'cortesão', de 'palaciano'. Hoje, designa aquele que enaltece e glorifica o poderoso. Se o poderoso em questão se encontra instalado no Estado ou aboletado no comando das legiões oposicionistas, é o de menos. Qualquer poderoso, esteja onde estiver, nutre estima por seus áulicos, aqueles amigos solícitos que riem de suas piadas, acendem seus cigarros e, quando conseguem atrair um microfone, elogiam os dotes visionários do chefe".
Diz ainda Bucci que, "para ser um
áulico, o sujeito não pode querer pensar muito, pois, se muito pensar, sua
lealdade ao chefe deixará de ser assim tão constante, tão canina. Não obstante,
eis que começam a pipocar áulicos que se emprestam ares de intelectuais
independentes".
Há alguns dias houve um exemplo claro da
postura áulica de boa parte da mídia em Campo Grande. Depois de mais de dois
anos da divulgação do nome da empresa vencedora da licitação para reformulação
da encruzilhada das avenidas Prof. Luís Alexandre de Oliveira, Nelly Martins (Via
Parque) e Mato Grosso, finalmente a Prefeitura da cidade entregou a obra
concluída, com uma festa de inauguração promovida pelo prefeito Marquinhos Trad
com a cumplicidade do governador Reinaldo Azambuja.
E ai de quem ousasse invectivar o prefeitinho
Marcos Trad. Receberia logo um passa-fora deseducado. Eu mesmo recebi uma repreensão
porque escrevi numa mídia social a seguinte frase criticando o caos na saúde
publica municipal: usando um linguajar
pra lá de tatibitate, o prefeito Marquinhos Trad finalmente foi a público
explicar a lambança na saúde pública na Morenópolis; e argumentou também a
respeito das desavenças com a Santa Casa, maior hospital do Estado. Falou ao
vivo para a TV Morena, mas não explicou realmente nada. E, como diria a famigerada
Zulmira (tia do cronista Stanislaw Ponte Preta), "quando a desculpa é
gaguejada é porque a explicação está errada". Um de seus jornalistas
de algibeira logo respondeu: "quanta bobagem"! —isso sem qualquer argumentação
lógica.
A um custo de 1,6 milhão de reais, cuja
maior parte saiu dos cofres do Governo do Estado de Mato Grosso do Sul. Mas foi
o prefeito Marquinhos Trad que comemorou salientando que “estamos inaugurando
aquilo que era um problema para todos os motoristas que usavam essas vias. São
mais de 35 mil veículos que transitam pelas avenidas Mato Grosso e Nelly
Martins, tanto no sentido centro, quanto no sentido Parque dos Poderes e toda a
Região Norte da nossa cidade. Um serviço econômico, de alta resolutividade
(sic) e que vai atender aos anseios de todos aqueles que aqui passam”, segundo
nota da assessoria de Comunicação da Prefeitura.
Assim, na quarta-feira, 16 de agosto/17 a
obra da mencionada rotatória das avenidas Mato Grosso, Prof. Luís Alexandre de
Oliveira e Nelly Martins foi inaugurada com pompa e circunstância. Festa pra
inaugurar reforma de rotatória e instalação de semáforos luminosos é um
disparate. Entretanto, não se leu na mídia local nenhuma crítica nem dos
veículos de comunicação, nem dos jornalistas, numa demonstração do aulicismo
mais contumaz.
Outro exemplo do aulicismo dos
comunicadores campo-grandenses é o aniversário da cidade. Nos textos
jornalísticos e no material publicitário difundidos para comemorar a data neste
ano de 2017 a gente é informada de que Campo Grande está festejando 118 anos, o
que não é verdade, mesmo porque José Antônio Pereira e seus companheiros,
fundadores da cidade, aqui chegaram em junho de 1872, há 145 anos, portanto.
Em agosto de 1972, o então prefeito
Antônio Mendes Canale, promoveu uma grande festança pra comemorar o primeiro centenário
daquela que viria a ser a capital de Mato Grosso do Sul. Depois, em agosto de
1999, o então prefeito André Puccinelli comemorou novamente o primeiro
centenário da cidade, nesta época já ungida capital do MS. Parece piada, mas
não é: num período de 27 anos, Campo Grande (e os campo-grandenses ignorantes a
reboque) festejou duas vezes os seus primeiros cem anos.
Você, leitor, já leu algum material
jornalístico analisando essa falta de respeito com a história da cidade? Não,
né? Nem eu. Em 1999, o dr. Puccinelli, muito festeiro, distribuiu dinheiro a
rodo pra comemorar o primeiro centenário da cidade e ninguém escreveu uma linha
pra criticar o senhor prefeito de então. Mas que importância tem a história?
Para o campo-grandense aparentemente nenhuma.
Só que não é bem assim. Como escreveu o
historiador Eric Hobsbawm, "o passado continua a ser a ferramenta
analítica mais útil para lidar com mudança constante (...)". A evolução
política e social de todas as sociedades somente se configura através do estudo
das relações entre passado, presente e futuro, e isso somente se espelha na
amplitude e importância do conhecimento da história de um povo. O jornalista é
uma espécie de testemunha ocular da história, porém seu testemunho só é válido
se ele agir por conta própria, sem a remuneração de um amo e senhor.
¬Luca Maribondo | lucamaribondo@uol.com.br | Campo Grande | MS
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